quinta-feira, 1 de junho de 2017

CLUBE DE LEITURA - JUNHO

Sinopse: A mulher vagueia no universo repressivo da casa. Poderia ser a mesma onde a avó fora morta pelo avô, ou de onde a mãe saíra, louca, para o hospital psiquiátrico. Ema é o nome de todas elas. Como o da antepassada tomada pelo terror após ter parido uma menina, sem dar ao homem com quem casara um filho varão.

É esse espaço de violência que vai alimentando o ódio na paixão que a última das Emas tem pelo marido. Um ódio crescente que a impele, implacável, para a vingança, para o assassínio dele. Uma morte desfrutada, dir-se-ia gozada, por um olhar onde, apesar de tudo, a paixão perdura...





«EMA» - FOI HÁ 30 ANOS

Em Setembro de 1984, Maria Teresa Horta entregou o original do romance «Ema» à editora Loy Rolim. O livro foi publicado em Novembro desse ano. Editado numa fase em que as obras de MTH eram acolhidas pelo mais espesso silêncio mediático, o livro foi saudado na altura apenas por Maria de Fátima Bonifácio, no corajoso artigo «Pax Masculina» publicado no «Expresso» em 22/12/1984. Como todas as criações de MTH, «Ema» esgotou-se, porém, rapidamente, o que levou a Editorial Rolim a avançar, logo em Janeiro seguinte, com uma segunda edição de 2.000 exemplares. E, até hoje, por aí se ficou. Entretanto, no estrangeiro e sobretudo no Brasil, «Ema» era estudada e tornava-se objecto de artigos e de dissertações académicas. Eis alguns casos: «Feminismo e pós-modernismo em "Maina Mendes" e "Ema"», dissertação de mestrado de Tereza Isabel de Carvalho, apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo em 1999; «"Ema": a intertextualidade na obra de Maria Teresa Horta», dissertação de Mestrado de Miriam Raquel Morgante Bittencourt à Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (Campus de Assis); «A mulher e o espelho em Maria Teresa Horta», é o título de uma comunicação apresentada no campus de Araraquara da UNESP em 29 de Abril de 2009, pela profª. Marlise Vaz Bridi, da Universidade de São Paulo, na qual se destaca em 'Ema' o «efeito de espelhamento entre as personagens femininas»; na revista «Colóquio Letras», da Fundação Gulbenkian, de Jan./Abr. 2010 (págs. 67 e segs), a professora da Univ. de São Paulo, Ana Maria Domingues de Oliveira, assina o artigo «Palavras enoveladas: simbiose entre géneros em Maria Teresa Horta», no qual se debruça largamente sobre «Ema», que considera «um dos momentos mais densos e interessantes da produção em prosa da autora»; a comunicação «Corpo silenciado e clausura face à libertação e loucura: uma leitura de “Ambas as mãos sobre o corpo” e “Ema” de Maria Teresa Horta», de Mônica Sant’Anna, do Grupo de Análise e Estudos da Literatura e da Tradutoloxía (GAELT) da Universidade de Vigo, é publicada na revista online Abriu, em 11/08/2012; o artigo «Para uma poética da demarcação: "Ema" de Maria Teresa Horta», de Sarah Carmo, Université Sorbonne Nouvelle, Paris 3 (CREPAL), é publicado no número de Abril de 2013 da Revista Abril da Universidade Federal Fluminense, do Rio de Janeiro
Na foto junta, uma expressão da escritora na sessão de lançamento de «Ema», em Novembro de 1984, no antigo auditório da SPA.




D. Quixote reedita “Ema” de Maria Teresa Horta







Para uma poética da demarcação: “Ema” de Maria Teresa Horta

Sarah Carmo

Resumo

Neste estudo, propomos analisar a inscrição do género no romance de Ma­ria Teresa Horta, Ema. Partindo da expressão “marca do feminino” oriunda do campo da gramática, estudamos a forma como esta marca se institui enquanto lugar de uma demarcação. Observamos, num primeiro passo, o processo de demarcação praticado pelo masculino sobre o feminino. De facto, na própria letra do texto, o masculino vem imprimir a sua marca no feminino, opondo-se a ele e apagando-o. Numa segunda parte, debru­çamo-nos sobre as estratégias elaboradas pelo feminino na tentativa de se demarcar, isto é, para legitimar e impor a sua diferença. Finalmente, numa última parte, analisamos a forma como o feminino origina e desenvolve a demarcação enquanto fronteira ou limiar que, ao mesmo tempo que sepa­ra, permite o encontro e os movimentos de passagem e transição.

Palavras-chave:demarcação, género, Maria Teresa Horta

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Crítica:
  
Ema(s)
Paula Joaquinito | 25-03-2017
Arrebatadoramente inquietante, lê-se numa vertigem. Uma chamada de atenção para a condição feminina e a sua subordinação face ao universo masculino à época e ao institucionalismo dos ditos, dos costumes e dos preconceitos geracionais.


Wook.pt - Maria Teresa Horta




Escritora e jornalista nascida em Lisboa em 1937. Frequentou a Faculdade de Letras da capital, tendo pertencido ao grupo de Poesia 61 e colaborado em diversos jornais e revistas. Foi dirigente do ABC Cine-Clube e militante activa nos movimentos de emancipação feminina. Estreou-se com o livro de poesia Espelho Inicial (1960). Dedicou-se igualmente à ficção, tendo publicado, entre outros títulos, Ambas as Mãos sobre o Corpo (1970). Em 1972 foi uma das autoras das polémicas Novas Cartas Portuguesas (com Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno), obra que suscitou um processo judicial pela sua natureza transgressora em relação à tradição patriarcal dominante.