segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

CLUBE DE LEITURA - FEVEREIRO

Ontem, pelas 21 horas, decorreu mais uma sessão do clube de leitura, para partilhar impressões do livro Gaspar, Belchior & Baltasar de Michel Tournier, autor que faleceu em janeiro passado. Se a melhor homenagem que se pode fazer a um escritor é ler a sua obra, foi então isso que fizemos. 

Nada melhor do que pegar nas últimas linhas do «POST -SCRIPTUM», para apontar as razões que levaram o autor a efabular uma reinvenção dos Reis Magos: 
"(...) Estas linhas do Evangelho segundo S. Mateus constituem a única menção feita aos reis magos nos textos sagrados. Os evangelhos segundo S. Marcos, Lucas e João não falam neles. Mateus não lhes dá nomes. O número três é geralmente deduzido dos três presentes mencionados: o ouro, o incenso e a mirra. Tudo o resto releva de textos apócrifos e da lenda, incluindo os nomes de Gaspar, Belchior e Baltasar.
O autor tinha portanto a liberdade de inventar, conforme a sua educação cristã e a magnífica iconografia inspirada na adoração dos magos, o destino e a personalidade dos seus heróis.
(...) A lenda do quarto rei mago, vindo de mais longe que os outros, faltando ao encontro a Belém e errando até Sexta-feira Santa, foi várias vezes contada, nomeadamente pelo pastor americano Henry L. Van Dyke (1852-1933) e pelo alemão Edzard Schaper (nascido em 1908), que se inspirou numa lenda ortodoxa russa."

E foi com muito interesse que conhecemos a vida e acompanhamos a viagem de quatro reis, oriundos do Sudão, Iraque, Síria e Índia, que, com as suas motivações (arte, política, amor  e... culinária!) deixaram os seus reinos, para se aventurarem até Jerusalém. 

Só para aguçar a curiosidade, deixamos algumas pistas que os poderão caracterizar:
 - Gaspar, rei de Méroe: "Sou negro, mas sou rei". "A minha curiosidade entra em constante conflito com a reserva e a distância que a realeza impõe".  
 - Baltasar, rei de Nippur: "Quem sabe - disse ele- se o sentido da nossa viagem não se resume a uma exaltação da negritude?" "(...) pretendo-o ainda - o sentido da justiça e o instinto político necessários e suficientes para governar um povo". 
 - Belchior, principado de Palmira: "Sou rei, mas sou pobre". "Compreendi  pouco a pouco que, no seu espírito, o culto da bela linguagem e das belas coisas praticado ao alto nível devia repercutir-se em todos os escalões certamente em virtudes menos nobres mas essenciais para a conservação do reino, tais como a coragem, o desinteresse, a lealdade, a probidade." 
 - Taor, principado de Mangalore: "Somos sempre mais ou menos o reflexo dos nossos empreendimentos e dos nossos obstáculos". "Dia a dia, exercitara uma operação que nunca lhe viria ao espírito em Mangalore e que era, de resto, completamente estranha aos grandes deste mundo: pôr-se no lugar dos outros e adivinhar assim o que sentem, pensam e projectam".

Boa leitura!









segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Umberto Eco, “o homem que sabia tudo”


MOURAD BALTI TOUATI/EPA



Umberto Eco foi escritor, filósofo, professor, semiólogo e crítico literário. Mais conhecidos do que os seus ensaios, são, porém, os seus romances, e em particular "O Nome da Rosa", que se transformou num best-seller internacional. Umberto Eco morreu na sexta-feira, aos 84 anos, vítima de cancro.



Helena Bento
O italiano "La Reppublica" anunciou a morte de Umberto Eco, na sexta-feira, com um artigo cujo título resume bem não só a sua personalidade, como a importância que ele tinha - e continuará a ter - no seu país de origem e no mundo. "Morreu Umberto Eco, o homem que sabia tudo".
Escritor, filósofo, professor, semiólogo e crítico literário, Umberto Eco é autor de vários ensaios sobre semiótica, estética medieval, linguística e filosofia, mas foi com a publicação de "O Nome da Rosa", seu primeiro romance, em 1980, que ganhou popularidade mundial, inclusive em Portugal. Traduzido para mais de 30 línguas e vencedor de vários prémios literários, o livro foi um enorme sucesso de vendas, transformando-se imediatamente num best-seller internacional.
"O Nome da Rosa" é, contudo, um livro não muito dado a rótulos. Tem tanto de crónica medieval como de relato histórico e intriga policial e detectivesca. Durante as suas pesquisas, um estudioso tropeça por acaso numa tradução francesa de um manuscrito do século XIV, escrito pelo monge benedito alemão Adso de Melk, que ali relata uma sua aventura, vivida na adolescência, ao lado do monge fransciscano Guilherme Baskerville, em que os dois, de visita a uma abadia no norte de Itália, em 1327, se veem subitamente envolvidos numa história de crimes, conspiração e descobertas extraordinárias. O romance foi adaptado ao cinema pelo realizador Jean-Jacques Annaud, em 1986.
Além de "O Nome da Rosa", entre os seus livros mais conhecidos estão "O Pêndulo de Foucault", publicado em 1988, "A Ilha do Dia Anterior" (1994), "Baudolino" (2000), "A Misteriosa Chama da Rainha Loana" (2004) e "O Cemitério de Praga" (2011). Na área das ciências sociais e humanas são também conhecidos os seus "Como se Faz uma Tese em Ciências" e "A Definição da Arte", "Obra Aberta" e "Os Limites da Interpretação".
Umberto Eco não foi o académico e teórico que se protegeu atrás das suas publicações nem o comunicador que opina sobre tudo e a eito. Foi ambos mas sempre na dose certa, e isso nem sempre agradou aos críticos. Eco, de resto, sempre reagiu com humor a tudo o que fosse ego ferido. Numa entrevista de 2002 ao "Guardian", o escritor e filósofo dizia: "Não sou um fundamentalista, dizendo que não há diferença entre Homero e Walt Disney. Mas o rato Mickey pode ser perfeito da mesma forma que um haiku [poema curto] japonês o é.”
Umberto Eco interessava-se por semiótica e filosofia ao mesmo tempo que escrevia sobre futebol e terrorismo e publicidade. A entrevista que deu ao Expresso em abril do ano passado é um bom exemplo dessa diversidade de preocupações. O tema principal eram os livros, mas a conversa fluiu tão naturalmente que jornalista e entrevistado acabaram a falar sobre temas como a migração, refugiados, Estado Islâmico e outros fundamentalismos.
Umberto Eco nasceu em 1932 em Alexandria, uma cidade industrial na região do Piemonte, noroeste de Itália. O seu pai, Giulio, era contabilista, e a mãe, Giovanna, trabalhava num escritório. Enquanto criança, sublinha o "New York Times", Eco passava muito tempo na cave em casa do avô, que era tipógrafo mas na reforma ganhava dinheiro a encadernar livros, a ler as suas coleções de Júlio Verne, Marco Polo e Charles Darwin. Na referida entrevista ao Expresso, Eco conta que a avó materna, "que tinha apenas cinco anos de escolaridade, era uma leitora voraz". "Trazia sempre livros da biblioteca, que lia e me dava a ler. Não era seletiva, devorava Balzac e a seguir uma novela popular. Por isso, aos 12 anos, também eu lia Balzac e novelas de cinco cêntimos, o que me deu o gosto pela leitura", conta.
Eco cresceu, estudou filosofia e estética e formou-se na Universidade de Turim com uma tese sobre a estética de São Tomás de Aquino. A partir de meados dos anos 50 começa a trabalhar na RAI, a televisão pública italiana, em programas culturais. É também nesta altura que começa a interessar-se por semiótica, a ciência dos signos, e é contratado para dar aulas na Universidade de Bolonha (primeiro de filosofia e depois de semiótica).
O seu último romance, "Número Zero" - uma reflexão sobre os jornais e os jornalismo - foi publicado no ano passado. A editora independente O Navio de Teseu, fundada pelo próprio Eco e outros autores, anunciou entretanto que vai antecipar a publicação do último livro do escritor e filósofo para 27 de fevereiro. O livro, intitulado "Pape Satàn Aleppe", reúne as suas crónicas publicadas na revista "L'Espresso" desde 2000.

Fonte:








sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Morreu Harper Lee, a autora de Mataram a Cotovia


  

 A escritora norte-americana Harper Lee, que ainda no ano passado voltou a ser um dos nomes de destaque na literatura com a publicação de Vai e Põe Uma Sentinela, editado pela Presença, sequela da obra-mestra Mataram a Cotovia, morreu nesta sexta-feira. Harper Lee tinha 89 anos. A notícia foi avançada por vários jornais locais e confirmada pela editora da escritora, a HarperCollins, ao The New York Times.

Harper Lee tinha apenas dois livros publicados, focados nas relações raciais no Sul dos Estados Unidos: Mataram a Cotovia (To Kill a Mockingbird no original), publicado há mais de cinco décadas, e Vai e Põe Uma Sentinela (Go Set a Watchman, no original), publicado no ano passado.

Sempre discreta, Lee conseguiu, ao longo dos anos, manter uma vida afastada da atenção mediática que Mataram a Cotovia lhe deu. Em 1961, um ano depois da publicação da obra, a história, contada por Scout, filha de seis anos de Atticus Finch, o advogado viúvo que defende um negro falsamente acusado de ter violado uma mulher branca, valeu-lhe o Pulitzer. Em 1962, foi adaptado ao cinema por Robert Mulligan num filme com o mesmo nome e que valeu o Óscar de melhor actor a Gregory Peck no papel de Finch. Mataram a Cotovia foi traduzido em mais de 40 línguas e vendeu mais de 30 milhões de exemplares em todo o mundo.

“Nunca esperei alcançar nenhum tipo de sucesso com Mataram a Cotovia”, disse em 1964 a uma rádio numa das suas poucas entrevistas. “Estava à espera de uma morte rápida e misericordiosa nas mãos dos críticos, mas ao mesmo tempo tinha alguma esperança de que alguém gostasse de tal forma que me incentivasse”, acrescentou ainda. 
Harper Lee voltou a ser notícia no ano passado, quando a obra que a autora julgava perdida foi publicada. O regresso teve tanto de inesperado, mais de 50 anos depois, que se tornou num dos acontecimentos literários de 2015. Vai e Põe Uma Sentinela foi escrito ainda antes de Mataram a Cotovia, apesar de ser uma sequela desta última – a história acontece cerca de 20 anos depois dos acontecimentos narrados em Mataram a Cotovia.

O manuscrito original de Vai e Põe Uma Sentinela foi escrito por Harper Lee na década de 1950. Foi então deixado de lado pela escritora e depois mal catalogado. Estava guardado num local seguro associado a um dactiloscrito deMataram a Cotovia.
“A meio da década de 1950, escrevi um romance chamado Vai e Põe Uma Sentinela. Baseia-se na personagem conhecida como Scout já adulta e considero-o um esforço muito decente. 

Na época, o meu editor, que gostou muito dos flashbacks que o livro tinha relativamente à infância de Scout, convenceu-me a escrever o romance do ponto de vista de uma jovem Scout. Eu era uma escritora iniciante, por isso fiz o que me disseram”, explicou então a escritora em comunicado, aquando do anúncio da edição do livro.
Lee, também conhecida por Nelle para aqueles que lhe são próximos, nasceu em 1926 em Monroeville, no estado do Alabama. Foi aqui que cresceu, numa época de tensão racial, acontecimentos que marcariam o seu trabalho. Em criança, passava os Verões com Truman Capote, apenas dois anos mais velho. Eram vizinhos e ficaram amigos, com uma relação que perdurou no tempo. Mesmo quando os dois viviam em Nova Iorque.

“O mundo perdeu uma mente brilhante e uma grande escritora”, disse, citada pela BBC, Spencer Madrie, proprietária da Ol' Curiosities and Book Shoppe, uma pequena livraria independente de Monroeville, destacando “as verdades que Harper Lee deu ao mundo, provavelmente antes de o mundo estar preparado para elas”. “Estamos agradecidos por termos tido uma ligação a uma autora que ofereceu tanto. Faltará sempre alguma coisa em Monroeville e no mundo em geral na ausência de Harper Lee.”

Em comunicado, o agente da autora, Andrew Nurnberg, escreveu que o mundo perdeu “um farol de integridade”. “Ter conhecido a Nelle nestes últimos anos não foi só um prazer absoluto mas também um privilégio extraordinário”, acrescentou ainda, contando ter estado com Lee há seis semanas. “Estava cheia de vida”, recordou, destacando a mente e inteligência afiada da escritora. Citava Thomas Moore, lembra ainda.

No Twitter, multiplicam-se as homenagens à escritora. “Descanse em paz, Harper Lee. A única coisa que não se submete à regra da maioria é a consciência de uma pessoa”, escreveu no Twitter o CEO da Apple, Tim Cook, citando uma conhecida frase da obra de Lee.

As causas da morte não foram reveladas. 




quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

LEITURA DE FEVEREIRO






Leitura indicada: "Gaspar Belchior & Baltasar" de Michel Tournier

Destinatários: público em geral

Data: 25 de Fevereiro de 2016



Horário: 21h00 às 22h00







Sinopse
O episódio dos Reis Magos procedentes da Arábia para adorar o menino Jesus, mesmo só tendo sido objeto de algumas linhas num único dos quatro Evangelhos, inspirou grandiosamente a pintura ocidental. Mas quem eram estes reis? Porque deixaram eles os seus reinos? Que encontraram eles em Jerusalém - com o Grande Hérodes - e depois em Belém? Não havendo respostas na História ou na lenda, cabia a um grande escritor responder a estas questões. É o que Michel Tournier procura fazer com este texto, ao mesmo tempo ingénuo e violento, que mergulha nas fontes da espiritualidade ocidental.
Michel Tournier

Nascido em Paris, em 1924, Michel Tournier é considerado um dos mais notáveis escritores franceses contemporâneos. Da sua vasta obra, destacam-se os romances Sexta-Feira ou os Limbos do Pacífico (1967; Grande Prémio de Romance da Academia Francesa), O Rei dos Álamos (1970; Prémio Goncourt), adaptado ao cinema pelo realizador Volker Schlöndorff, em 1996, e Os Meteoros (1975), estes dois últimos também publicados pela Dom Quixote. É ainda autor de novelas como O Galo do Mato, Gilles & Jeanne e Le Médianoche amoureux, textos literários e poéticos como Célébrations, Le Vol du vampire ou Le Miroir des idées, ensaios, contos, poemas, romances juvenis e um livro de viagens, Le vagabond immobile (1984). Publicou a sua autobiografia literária em 1977, com o título Le Vent Paraclet. Michel Tournier é membro da Academia Goncourt desde 1972.

Mais informação:
Michel Tournier (1924-2016), um romancista fascinado pelo mito

ANTÓNIO GUERREIRO 
19/01/2016 - 16:41
O escritor francês, para quem o romance devia ser a elevação de uma história à condição de mito, morreu na segunda-feira aos 91 anos.




Michel Tournier fotografado em 2005 no jardim de sua casa em Choisel AFP / CATHERINE GUGELMANN


Michel Tournier teve uma vida longa, morreu com 91 anos na segunda-feira. Pela sua obra foi muitas vezes considerado – em círculos localizados e zelosos de valores tradicionais do romance – um dos maiores romancistas franceses da segunda metade do século XX e merecedor de ganhar o incerto estatuto de nobelizável. Desde meados dos anos 1990 que quase deixou de publicar.

O seu primeiro romance foi aquele que mais glória literária lhe trouxe. Publicou-o em 1967, quando já tinha 42 anos, e chama-se Sexta-Feira ou os Limbos do Pacífico (foi também o primeiro a ser traduzido em português, por Fernanda Botelho, na Bertrand, e mais tarde na Relógio d'Água; outras traduções dos romances de Tournier foram publicadas pela Dom Quixote). É uma reelaboração plena de implicações filosóficas e antropológicas do mito de Robinson Crusoé. Michel Tournier tinha estudado filosofia. Foi, aliás, na universidade que teve como colega Gilles Deleuze, do qual foi amigo muito próximo.

A Deleuze deve Tournier um longo e profundo ensaio sobre esse seu primeiro romance, publicado no final de Logique du Sens, que muito contribuiu para o reconhecimento público do romancista. Um reconhecimento que se acentua com O Rei dos Álamos, o romance que publicou três anos depois, em 1970, e que lhe valeu o Prémio Goncourt (Sexta-Feira tinha obtido o prémio da Academia Francesa) e que é ainda alimentado com Os Meteoros, de 1975. Mas a partir daí a luminosidade que Tournier tinha alcançado começa a declinar. Os livros que publicou a seguir estão longe de obter o mesmo reconhecimento e, já nos anos 1990, a recepção crítica dos seus últimos livros foi muito pouco favorável.

Ele foi um escritor que queria ser lido por todos os estratos de leitores e que aspirava à universalidade. O seu meio nunca foi o dos intelectuais franceses e muito menos dos parisienses. E a sua escrita do romance procurava uma limpidez que devia muito mais aos grandes romancistas da segunda metade do século XIX do que às experiências vanguardistas do século XX.

Essa vontade de ser lido, sem pressupostos elitistas, determinou certamente a versão juvenil que fez do seu primeiro romance: Sexta-Feira ou a Vida Selvagem (Editorial Presença), assim se chama essa versão, da qual se fez uma adaptação para uma série da televisão francesa. Isso – e o facto de esse livro juvenil ter entrado nos programas escolares – garantiu durante muito tempo a grande irradiação pública de Michel Tournier.

Com esse romance, o escritor definiu o espaço literário em que se quis sempre situar. Para ele, o romance devia ser a elevação de uma história à condição de mito, o que sempre o desviou de todo o realismo e intimismo. O Eu e a realidade empírica imediata nunca foram matéria dos seus livros e causavam-lhe até um acentuado repúdio. Percebemos assim que ele tenha passado do mito de Robinson para o ogre de um célebre poema de Goethe para fazer uma alegoria do nazismo (em O Rei dos Álamos), e tenha a seguir reinterpretado o fascinante mito da gemelidade em Os Meteoros.

A propósito de O Rei dos Álamos, importa dizer que, na sua formação literária e intelectual, Tournier impregnou-se de cultura e literatura alemãs (até como tradutor de escritores alemães, antes de se ter tornado romancista). Apesar da sua formação universitária em filosofia, nunca foi um filósofo e, num livro de ensaios autobiográficos que é também uma reflexão sobre a sua arte do romance, confessa como o convívio com Deleuze o fez perceber a sua menoridade no campo da filosofia.

No entanto, dois filósofos ocupam um lugar destacado no seu panteão: Kant e Leibniz. É de resto o mundo fechado e harmonioso da mónada leibniziana que serve de modelo à estrutura dos seus romances. O que os caracteriza é, de facto, uma estrutura arquitectónica rigorosa e perfeita que lhes dá o aspecto de artefacto muito bem construído por um autor demiurgo que se assemelha ao Deus leibniziano.

Esse lado de artifício onde tudo parece estar predeterminado resulta muitas vezes num estrito monologismo e acabou por constituir a maior fragilidade dos últimos romances de Tournier. Como escritor, foi um defensor de valores clássicos. Escreveu sempre como se não tivesse sido contemporâneo donouveau roman .