sexta-feira, 26 de setembro de 2014

CLUBE DE LEITURA DE SETEMBRO

Decorreu ontem, mais uma participativa sessão do Clube de Leitura, com a apreciação da obra "Quem me dera ser onda" do escritor angolano Manuel Rui.

Foram vários os aspectos referidos e foi unânime a opinião de que sendo aparentemente uma história infantil, é no entanto um livro sério que nos fala de diferenças sociais, de poder político, de corrupção, de sentimentos e lições de vida. Toda a história é uma metáfora. Um porco que é levado para um apartamento onde são proibidos animais, com a finalidade de ser engordado para a matança no carnaval. Duas crianças que se afeiçoam ao animal e que tentam impedir a todo o custo o final que lhe está reservado. Os vizinhos e administrador do prédio, que estando contra, são os primeiros a fechar os olhos quando convidados para a festança. Uma professora que arrisca a ser considerada uma caso psiquiátrico quando dá a liberdade criativa aos alunos para que possam escrever uma composição como esta:

Redacção

Carnaval da vitória é o porco mais bonito do mundo. Meu pai que lhe trouxe no sétimo andar onde a comissão de moradores é reaccionária porque não quer porcos no prédio e o camarada Faustino tem kandonga de dendém e faz kaporroto a cem kwanzas cada búlgaro. Primeiro o nome dele era só carnaval. Depois que a gente ganhou a vitória contra o inimigo ficou carnaval  da vitória. O inimigo é um fiscal fantoche ladrão de porcos que lhe denunciamos no prédio onde ele ficou na vergonha. Carnaval da vitória é o porco mais bom do mundo porque quando veio na nossa escola a camarada professora deu borla.
O meu pai é um reaccionário porque não gosta de peixe frito do  povo e ralha com a minha mãe. Ele é que é um burguês pequeno mas diz que carnaval da vitória é um burguês. Por isso lhe quer matar só por causa de comer a carne. Carnaval da vitória é um revolucionário porque quando meu pai bateu em mim e no meu irmão Zeca ele lhe quis morder. Nós não vamos deixar mater carnaval da vitória porque a luta continua e o responsável da comissão de moradores não sabe as palavras de ordem que os pioneiros é que lhe ensinam. E a camarada professora é muito boa porque deixa fazer redacções que a gente quer e até trouxe na escola o primo dela Filipe que veio tocar viola dentro da nossa sala.
Ruca Diogo

E um final poético. 
“Vocês não gostavam de ser onda? (…) Ainda se uma pessoa fosse entrava com essa força no mar onde a gente queria. Onda ninguém amarra com corda.
(…)
- Quem me dera ser onda!