sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

CLUBE DE LEITURA DE DEZEMBRO

Ontem, decorreu mais uma animada sessão do Clube de Leitura desta vez dedicada à obra "Um Natal e outras histórias" do escritor e jornalista norte-americano Truman Capote. 

Neste curto e comovente conto é uma criança que fala. Um rapazinho, filho de pais separados e educado por uma velha prima, vê-se obrigado a passar o Natal com o pai, em Nova Orleães, onde espera ver finalmente a neve. Mas não há neve nem milagres junto de um homem rodeado de mulheres que procura exprimir uma ternura que o rapazinho compreende mal.

Trata-se de uma narrativa autobiográfica da sua infância, cheia de emoções,  com momentos de entusiamo, seguida da decepção e por fim a aceitação da realidade e uma fuga para a frente, fases que todos sentem na pele ao longo da vida.

Nesta sessão, mais parecendo um encontro de velhas amigas, com chá, bolos natalícios e até troca de receitas culinárias pelo meio, ficou a vontade de mergulhar em mais alguns livros deste autor e uma irresistível curiosidade por rever o filme biográfico "Capote", dirigida por Bennett Miller e interpretada pelo já falecido ator Philip Seymor Hoffman, no qual surge também a personagem Harper Lee, que era sua amiga inseparável.

A próxima sessão do Clube de Leitura será no dia 29 de Janeiro, pelas 21 horas, com a obra  "Se numa noite de Inverno um viajante" de Italo Calvino.

Até lá, ÓPTIMO NATAL E MUITAS PRENDAS LITERÁRIAS!







 

LEITURA DE DEZEMBRO


Na próxima 4ª feira, dia 10 de Dezembro, decorrerá uma sessão extraordinária do Clube de Leitura, na qual será abordada a obra "Um Natal e outras histórias" de Truman Capote.


Sinopse:
Este curto texto lembra-nos que Truman Capote também em alguns dos seus livros (A Harpa de Ervas, por exemplo) foi um poeta da prosa que punha em cena jovens inquietos e difíceis com pouca vontade de crescer.
Aqui, é uma criança que fala. Um rapazinho, filho de pais separados e educado por uma velha prima, vê-se obrigado a passar o Natal com o pai, em Nova Orleães, onde espera ver finalmente a neve. Mas não há neve nem milagres junto de um homem rodeado de mulheres que procura exprimir uma ternura que o rapazinho compreende mal.
Encontro falhado e tanto mais doloroso quanto foi vivido com uma espécie de doçura tão implacável como a violência. Truman Capote nunca levanta a voz para nos falar dessa perturbação íntima. Para descrever algo tão secreto como um desgosto infantil, a densidade e a emoção contida destas páginas são a mais perfeita das realizações. 


Críticas de imprensa
«Quando Truman Capote mete ombros à tarefa de, em jeito de ficção, relatar um episódio ligado à sua própria infância, o resultado é este pequeno conto, historieta de nada e de tudo, onde se contêm emoções autênticas na malha apertada de uma técnica narrativa excepcional. Magnífica colecção da Difel, exemplo máximo da máxima small is beautiful.»

Expresso


Truman Capote, escritor norte-americano nascido em 1924, em Nova Orleães, e falecido em 1984. Oriundo de uma família de origem espanhola, viveu no Alabama e concluiu os seus estudos médios em Nova Iorque. Após ter iniciado colaboração em revistas, publicou o seu primeiro romance, Other Voices, Other Rooms, em 1948. Membro do Instituto Nacional das Artes e Letras, recebeu diversas distinções, entre as quais o Prémio Memorial O. Henry de 1946, 1948 e 1951, e o Prémio de Escrita Criativa do Instituto Nacional de Artes e Letras, em 1959.
Publicou uma vasta obra, destacando-se Local Color (ensaio, 1950), The Grass Harp (romance, 1951), Breakfast at Tiffany's (contos, 1958) e Then It All Came Down (romance, 1976). Sobre o seu romance publicado em 1964, In Cold Blood (A Sangue Frio), Bennett Miller realizou Capote, um filme que valeu a Philip Seymour Hoffman, ator que vestiu a pele do escritor, vários prémios, nomeadamente o Óscar de Melhor Ator Principal.



CLUBE DE LEITURA DE NOVEMBRO - VISITA SURPRESA DO ESCRITOR PEDRO GUILHERME-MOREIRA

Ontem, pelas 21 horas, decorreu mais uma sessão do Clube de Leitura sobre a obra "Livro sem ninguém" do escritor e advogado portuense Pedro Guilherme-Moreira, que nos proporcionou uma visita-surpresa.
A sessão foi animadíssima e a sua simpatia gerou um momento muito especial para o Clube.
Desafiamos a Profª Cristina Marques a fazer uma crónica sobre a sessão, que será publicada em breve.
O autor ofereceu à biblioteca dois exemplares da sua outra obra "A manhã do Mundo" e ficou a promessa de voltar para uma sessão pública.
Obrigada Pedro pela tua presença!



LEITURA DE NOVEMBRO

Com uma periodicidade mensal, o Clube de Leitura destina-se a promover o prazer da leitura partilhada. As reuniões decorrem à volta de um livro previamente escolhido e lido por todos, proporcionando a convivência e a discussão entre quem gosta de ler e explorar os livros lidos, tornando a experiência da leitura ainda mais estimulante. Pontualmente poderá ter um escritor/dinamizador convidado.

A próxima sessão será no dia 27 de novembro, entre as 21 e 22 horas e foi escolhida a obra "Livro sem ninguém"de Pedro Guilherme-Moreira.




Sinopse: Na rua do arco-celeste há sete casas, cada uma de sua cor; e também um café, uma horta, um jardim, uma florista, uma sucata, um infantário e uma escola. Mas, embora lá vivam pessoas - que frequentam o café, trabalham na horta, lêem no jardim, compram flores para oferecer a quem amam, se desembaraçam dos seus podres ou jogam à bola no recreio -, esta história é contada apenas pelas coisas que lhes pertencem à medida que vão mudando de lugar, e por isso se diz que o livro é sem ninguém. E, ainda assim, durante este ano extraordinário, acontece de tudo na rua: há quem se apaixone e quem se separe, quem nasça, quem morra, quem mate e até quem, depois do trauma, consiga uma vida nova. Mas, como em todas as ruas, havemos de encontrar nesta preconceitos, dúvidas, alegrias, segredos e desgostos. Enquanto isso, o tempo vai passando sem darmos por ele, mas a montra da florista e o que se colhe ou semeia na horta nunca nos deixam perder do mês em que estamos.
Num romance profundamente original, a um tempo cru e delicado, poético e realista, Pedro Guilherme-Moreira usa o microcosmos da rua para desenhar o retrato da sociedade contemporânea e abordar temas tão polémicos como a xenofobia, a violência doméstica, a repressão sexual ou o envelhecimento. E - miraculosamente - sem precisar de ninguém.

Pedro Guilherme-Moreira, nascido no Porto no Verão de 1969, chegou com 7 anos às mãos da professora Laura sem saber fazer contas de dividir; ela ensinou-o e ele pagou-lhe com uma fábula. Aos 11, entre rapazes de 16 e 17, empatou o primeiro lugar dos jogos florais da escola com um rapaz de 12, hoje um conhecido político. Aos 13, perdeu para o mesmo menino, mas levou o 2.º e o 3.º prémios. Aos 16, ganhou (finalmente sozinho), porque o menino político entrou na Universidade. No ano seguinte entrou ele, na de Coimbra, e andou com Torga no trólei 3, mas nunca se falaram. Profissionalmente, foi dos primeiros advogados a ganhar o Prémio Lopes Cardoso, com um artigo publicado, primeiro, na prestigiada Revista da Ordem dos Advogados e, depois, em livro. Aos 25, decidiu publicar apenas aos 40, porque queria saber, e escrever, mais. 
Em 2012 foi agraciado com o prémio de poesia do Museu Nacional da Imprensa. A Manhã do Mundo aparece a meio do seu «dia», sendo o seu primeiro romance. 
Livro sem ninguém,  o seu segundo romance, foi finalista do Prémio LeYa em 2012.

CLUBE DE LEITURA DE OUTUBRO - 2º ANIVERSÁRIO

Decorreu ontem, pelas 21 horas, a sessão de Outubro do Clube de Leitura com o debate da obra de Nelle Harper Lee "Não matem a cotovia", da escritora norte-americana,  Prémio Pulitzer em 1961.

O encontro decorreu animado com a discussão sobre as personagens do livro que se nos apresentam sob a visão de uma criança curiosa, rebelde, alegre e divertida, retratando uma comunidade preconceituosa, conservadora e racista americana do sul dos EUA, em plena Depressão.

Destacaram-se personagens  pelos rigorosos princípios éticos mas, simultâneamente, de uma tolerância, serenidade, doçura e carinho que são uma lição de vida para qualquer pai ou educador. 

O Clube de Leitura festejou com satisfação o seu segundo ano de existência num ambiente são e de boa disposição. O balanço foi positivíssimo, pois foram lidos 21 livros, permitindo assim, uma aventura por leituras diversificadas entre alguns clássicos, contemporâneos, prémios nobel, entre escritores portugueses e estrangeiros.

Para o  próximo mês o livro selecionado foi o original romance "Livro sem ninguém: a natureza humana pela natureza morta" de Pedro Guilherme- Moreira, finalista do prémio Leya.

E, por favor, não matem a cotovia!



Por favor, não matem a cotovia!
Visita à Exposição Momentos Marcantes da Biblioteca Municipal








segunda-feira, 6 de outubro de 2014

LEITURA DE OUTUBRO

É já na próxima quinta-feira (dia 30), que se irá realizar mais uma sessão do Clube de Leitura e este mês em clima de festa. É que o Clube já faz dois anos de existência!!
Estão de parabéns os nossos leitores, os livros, as leituras, a partilha, enfim, todos nós!

Com uma periodicidade mensal (à exceção de agosto e dezembro), o Clube de Leitura destina-se a promover o prazer da leitura partilhada. As reuniões decorrem à volta de um livro previamente escolhido e lido por todos, proporcionando a convivência e a discussão entre quem gosta de ler e explorar os livros lidos, tornando a experiência da leitura ainda mais estimulante. Pontualmente poderá ter um escritor/dinamizador convidado.

Para pertencer ao Clube de Leitura é apenas necessário gostar de ler e descobrir que aventuras, emoções, sensações e mistérios habitam por detrás de um livro.
De que está à espera para se juntar ao Clube??
Para a sessão do dia 30 de Outubro, entre as 21 e 22 horas, foi escolhida a obra "Por favor, não matem a cotovia" de Harper Lee, livro que faz parte da selecção para o Plano Nacional de Leitura, recomendado para o 3º ciclo, destinado a leitura autónoma. Foi também Prémio Pulitzer.

Sinopse: Situado em Maycomb, uma pequena cidade imaginária do Alabama, durante a Grande Depressão, o romance de Harper Lee, vencedor do Prémio Pulitzer, em 1961, fala-nos do crescimento de uma rapariga numa sociedade racista.
Scout, a protagonista rebelde e irónica, é criada com o irmão, Jem, pelo seu pai viúvo, Atticus Finch. Ele é um advogado que lhes fala como se fossem capazes de entender as suas ideias, encorajando-os a refletirem, em vez de se deixarem arrastar pela ignorância e o preconceito.
Atticus vive de acordo com as suas convicções. É então que uma acusação de violação de uma jovem branca é lançada contra Tom Robinson, um dos habitantes negros da cidade.
Atticus concorda em defendê-lo, oferecendo uma interpretação plausível das provas e preparando-se para resistir à intimidação dos que desejam resolver o caso através do linchamento. Quando a histeria aumenta, Tom é condenado e Bob Ewell, o acusador tenta punir o advogado de um modo brutal.
Entretanto, os seus dois filhos e um amigo encenam em miniatura o seu próprio drama de medos, centrado em Boo Radley, uma lenda local que vive em reclusão numa casa vizinha.
Recentemente, alguns dos mais importantes livreiros norte-americanos atribuíram grande destaque ao livro, ao elegerem-no como o melhor romance do século XX.

Críticas de imprensa
«Sem dúvida um verdadeiro fenómeno literário, este romance sulista não apresenta a mais pequena mácula nas suas delicadas folhas de magnólia. Divertido, alegre e escrito com uma precisão cirúrgica.»Vogue
«O estilo de Harper Lee revela-nos uma prosa enérgica e vigorosa capaz de traduzir com minúcia o modo de vida e o falar sulistas, bem como uma imensa panóplia de verdades úteis sobre a infância no sul dos EUA.»Time

Nelle Harper Lee, nasceu a 28 de abril de 1926, em Monroeville, Alabama, nos Estados Unidos da América. Era a mais nova de quatro irmãos.
Em criança, Harper Lee foi uma maria-rapaz e uma leitora precoce, tendo como vizinho e colega de escola Truman Capote.
Depois de ter acabado o liceu em 1944, frequentou o Huntingdon College em Montgomery, e, mais tarde, a Universidade de Alabama. Entre os seus colegas ficou conhecida por gostar da solidão e de livros. Colaborou no jornal escolar, Rammer Jammer.
Depois de regressar de um verão na Universidade de Oxford, em Inglaterra, Lee abandonou os estudos de Direito e partiu para Nova Iorque, decidida a tornar-se escritora. Trabalhou em empresas de aviação e manteve-se em contacto com Truman Capote. São dessa época os seus primeiros contos.
Lee acabou de escrever Mataram a cotovia no verão de 1959. Publicado em julho 1960, o romance recebeu no ano seguinte o Prémio Pulitzer de Ficção.
Mataram a cotovia tem aspectos autobiográficos.
Tal como  Lee, a protagonista do livro, Scout Finch, era filha de um advogado numa pequena cidade (e o apelido de solteira da mãe de Harper Lee era Finch). Dill, o amigo dos dois irmãos do romance, inpira-se em Capote, que, por sua vez, se inspirou em Harper Lee para criar a personagem de Idabel Thompkins em outras vozes, outros quartos.
Depois de ter terminado a escrita do seu romance, Lee acompanhou Truman Capote a Holcomb, Kansas, para o apoiar na investigação do assassínio de um fazendeiro e da sua família.
Foi o material então reunido que deu origem a A sangue frio
Embora tenha iniciado um segundo romance, The Long Goodbye e publicado alguns escritos, Harper Lee não voltaria a editar qualquer livro.
Recusou também proferir conferências ou conceder entrevistas. Aceitou no entanto ser nomeada para o National Council on the Arts e receber o doutoramento Honoris Causa da Universidade de Notrer Dame.
Em Julho de 2006, escreveu uma carta a Oprah Winfrey, em que dizia: "Agora, setenta e cinco anos mais tarde, na sociedade da abundância onde as pessoas têm portáteis, telemóveis, iPods, e mentes que parecem quartos vazios, eu prefiro teimosamente livros. 
Viveu sempre uma vida completamente afastada dos círculos mediáticos e é junto com JD Salinger, uma das mais famosas reclusas literárias, morando ainda hoje na casa onde passou a sua infância, em Monroeville, no estado sulista do Alabama.


sexta-feira, 26 de setembro de 2014

CLUBE DE LEITURA DE SETEMBRO

Decorreu ontem, mais uma participativa sessão do Clube de Leitura, com a apreciação da obra "Quem me dera ser onda" do escritor angolano Manuel Rui.

Foram vários os aspectos referidos e foi unânime a opinião de que sendo aparentemente uma história infantil, é no entanto um livro sério que nos fala de diferenças sociais, de poder político, de corrupção, de sentimentos e lições de vida. Toda a história é uma metáfora. Um porco que é levado para um apartamento onde são proibidos animais, com a finalidade de ser engordado para a matança no carnaval. Duas crianças que se afeiçoam ao animal e que tentam impedir a todo o custo o final que lhe está reservado. Os vizinhos e administrador do prédio, que estando contra, são os primeiros a fechar os olhos quando convidados para a festança. Uma professora que arrisca a ser considerada uma caso psiquiátrico quando dá a liberdade criativa aos alunos para que possam escrever uma composição como esta:

Redacção

Carnaval da vitória é o porco mais bonito do mundo. Meu pai que lhe trouxe no sétimo andar onde a comissão de moradores é reaccionária porque não quer porcos no prédio e o camarada Faustino tem kandonga de dendém e faz kaporroto a cem kwanzas cada búlgaro. Primeiro o nome dele era só carnaval. Depois que a gente ganhou a vitória contra o inimigo ficou carnaval  da vitória. O inimigo é um fiscal fantoche ladrão de porcos que lhe denunciamos no prédio onde ele ficou na vergonha. Carnaval da vitória é o porco mais bom do mundo porque quando veio na nossa escola a camarada professora deu borla.
O meu pai é um reaccionário porque não gosta de peixe frito do  povo e ralha com a minha mãe. Ele é que é um burguês pequeno mas diz que carnaval da vitória é um burguês. Por isso lhe quer matar só por causa de comer a carne. Carnaval da vitória é um revolucionário porque quando meu pai bateu em mim e no meu irmão Zeca ele lhe quis morder. Nós não vamos deixar mater carnaval da vitória porque a luta continua e o responsável da comissão de moradores não sabe as palavras de ordem que os pioneiros é que lhe ensinam. E a camarada professora é muito boa porque deixa fazer redacções que a gente quer e até trouxe na escola o primo dela Filipe que veio tocar viola dentro da nossa sala.
Ruca Diogo

E um final poético. 
“Vocês não gostavam de ser onda? (…) Ainda se uma pessoa fosse entrava com essa força no mar onde a gente queria. Onda ninguém amarra com corda.
(…)
- Quem me dera ser onda!






terça-feira, 29 de julho de 2014

LEITURA DE SETEMBRO

Com uma periodicidade mensal (à exceção de agosto e dezembro), o Clube de Leitura destina-se a promover o prazer da leitura partilhada. As reuniões decorrem à volta de um livro previamente escolhido e lido por todos, proporcionando a convivência e a discussão entre quem gosta de ler e explorar os livros lidos, tornando a experiência da leitura ainda mais estimulante. Pontualmente poderá ter um escritor/dinamizador convidado. 

A próxima sessão será no dia 25 de setembro, entre as 21 e 22 horas e foi escolhida a obra "Quem me dera ser onda" de Manuel Rui, livro recomendado pelo Plano Nacional de Leitura, destinado a leitura autónoma. 


Excerto
"Na família Diogo cada vez mais se desenhava diferença de atitude em relação a Carnaval da Vitória. Os dois miúdos tratavam o porco como membro da família. Limpavam o cocó dele, davam-lhe banho e, todos os dias, passavam nas traseiras do hotel a recolher dos contentores pitéus variados com que o bicho se jiboiava. O suíno estava culto, quase protocolar. Maneirava vénias de obséquio com o focinho e aprendera a acenar com a pata direita, além de se pôr de papo para o ar à mínima cócega que um dos miúdos lhe oferecesse na barriga. Pai Diogo aferia o porco de maneira diferente. Para ele era tudo carne, peso, contabilidade no orçamento familiar..."  

Quem é Manuel Rui?  
Nasceu no Huambo, Angola (1941) e reside em Luanda.
Estudou Direito em Portugal, onde exerceu advocacia.
Participou activamente na vida cultural e política de Angola no período que se seguiu à independência daquele país.
Tem várias obras publicadas e traduzidas para diversas línguas, entre as quais a famosa novela "Quem me dera ser onda". Outros títulos publicados pelos Livros Cotovia: "Regresso Adiado", "Crónica de um Mujimbo", "Rioseco", "Um anel na areia".


segunda-feira, 28 de julho de 2014

CLUBE DE LEITURA DE JULHO - SESSÃO EXTRA

À varanda…
 -“ À varanda”. Palavras injustas para dizer o que fez o Clube de Leitura, no serão do dia 23 de julho…
- …porque estivemos à varanda, sem estar à varanda!
- Entendamo-nos:  se ler um livro é estar à varanda já que, serenamente, saboreamos o horizonte visível e não visível, então estivemos à varanda…
- Mas não estivemos, de facto, à varanda. Essa é a verdade!
- Entendamo-nos! Estivemos à varanda com o Homem duplicado, com Saramago, com Denis Villeneuve… foi isto afinal o que aconteceu… 
- Mas não estivemos, de facto, à varanda…. bolas!
- Mas, se ler um livro é estar à varanda com outras linguagens artísticas, é verdade que fomos ver o Enemy, portanto, estivemos à varanda, e percecionamos, pelo filme/livro que a mente, nos seus enredos, ilusões, fobias, nos duplica  e/ou nos transfere para uma vida outra, distante da rotina cíclica do quotidiano, percebemos, através do  filme, que Fernando Pessoa tem razão quando diz “Tudo o que sonho ou passo,/O que me falha ou finda,/É como que um terraço/Sobre outra coisa ainda./Essa coisa é que é linda.” “Terraço” e “varanda” são quase sinónimos, então, a vida é isto: É ESTAR À VARANDA! Saltar da varanda… Estivemos à varanda, estando  à varanda!
- À varanda, sem estar à varanda…irra! Foi isso que aconteceu!
- Continuemos! O jantar também foi à varanda. Dele víamos hortas tratadas com um carinho inexperiente, mas perícia douta, víamos as árvores da nossa infância que ainda trazemos plantadas em nós e que nos dão dióspiros, cerejas e flores de pessegueiro… discutimos sobre o perfeito equilíbrio ambiental que não prescinde das famílias de insetos e das  ervas daninhas,  fazendo amontoar, a um canto, os utensílios  da faina agrícola, entusiasmadamente adquiridos numa loja da especialidade. Serenamente, nesta varanda, recordámos os nossos colegas leitores e jurámos que não iam acreditar que tivéssemos estado à varanda!
- Não estivemos à varanda, efetivamente! As metáforas, as metáforas!...
 - Fomos colher uma evidência. Com ar de quem tinha estado ao ar fresco da varanda, no UCI, solicitamos autorização para tirar uma fotografia com o cartaz do filme.
- E então, tivemos oportunidade de estar à varanda com Jake Gyllenhaal! Aqui está a fotografia, em pose de quem está à varanda! Até que enfim!...
 - Conclua-se, no entanto, que estar à varanda é altamente perigoso: podemos cair abaixo da paisagem!
- Aconteceu!
- Agora digo eu: aconteceu sem ter acontecido!!!
- Até que enfim!
-Decidimos trazer o cartaz do filme, desafiando leis de Einstein e Arquimedes, com a nossa sustentável leveza de cálculo feminino.
-Erradas as contas e as medidas…
- … e anulada a possibilidade de o vento nos ajudar em transporte sobre o tejadilho,  deixámos o cartaz emoldurado na grelha de suporte de carrinhos de compras, no parque de estacionamento do Arrábida Shopping… certas de que seria uma varanda para muitas interrogações e especulações! Mas …é tão bom estar à varanda!
- Quando se está, de facto, à varanda!
- Estaremos à varanda com outros livros… E, sendo a leitura e a varanda um espaço ficcional e virtual, há sempre lugar para mais um …livro, leitor, whatever!!
- Quando te cansares de estar à varanda, vem para dentro! Fecha o livro e a porta!... Até amanhã!
Cristina Marques